Teste de Personalidade
Sempre achei testes de personalidade mágicos. Algumas perguntas, uns desenhos, várias opções e lá estava a sua vida toda descrita. Na realidade, os testes de personalidade não são mágica; os bons testes revelam traços da personalidade e nos ajudam a compreender um pouco mais de nossas escolhas e motivações pessoais, inclinações e talentos. E fraquezas.
Na época em que eu era adolescente e a internet sequer existia, as revistas para esse público sempre traziam testes que, vamos combinar, creio que não eram tão confiáveis assim. Era um festival de testes, com coisas que incluíam se você sabia paquerar, fazer amigos e até beijar! Quem vai confiar na resposta de um teste de cinco perguntas que dá o resultado se você beija bem ou mal? Pois bem. Quem? Adolescentes, claro!
Contudo, tenho visto que as pessoas nas redes sociais têm propagado inúmeros testes ultimamente. Afinal, se o melhor assunto para qualquer bom papo é a própria pessoa, nada melhor para “bombar” na rede do que essa necessidade de nos conhecermos. E os testes são sucesso não apenas entre o público mais jovem. Pessoas de todas as idades têm enchido suas linhas do tempo com testes sobre quantos filhos deveriam ter; com que idade e de quê vão morrer; com qual personagem da Disney ou qual super-herói se parecem; o que a data de aniversário diz sobre cada um (até uma certa época, isso se chamava astrologia...). Há também que tipo de profissão combina com sua personalidade. E como você é como profissional. Para meus amigos professores choveram publicações sobre “que tipo de professor você é”. E ainda há até testes para descobrir quem a pessoa é no filme (coloque o nome do filme, novela, desenho ou série que quiser).
Até aí, tudo bem, embora eu não entenda o porquê de alguém se contentar em ver se parece com Anna, Elsa, Olaf ou um troll do filme Frozen, sendo que há 7 bilhões de pessoas no planeta, únicas e mais interessantes.
Mas, o que geralmente se faz após passar pelas cinco, no máximo dez perguntinhas dos testes? Sim, a pessoa sente uma enorme necessidade de compartilhar, para as outras pessoas conhecerem a personalidade delas. Se não, qual é mesmo a graça? Claro, alguns amigos até leem, mas a maioria vai mesmo direto lá para o site fazer o teste e divulgar seus resultados também – que, para completar o ciclo, quase ninguém vai ler, mas vai correr parar fazer o teste.
Então, por que fazê-los? Para que outros nos conheçam? E o tal do “conhece-te a ti mesmo”, como fica? Quanto desse autoconhecimento padrão miojo a gente consegue reter nesse clicar incessante de testes que pipocam diariamente?
Será que não temos passado tempo demais diante de telas, rolando informações, imagens, vídeos e acontecimentos interessantes, só para esquecermos no momento seguinte o que foi mesmo que acabamos de ver? Quanto tempo tiramos para o nosso autoconhecimento profundo, detalhado, verdadeiro? Temos ouvido ou abafado as dores e clamores do corpo e da mente que lutam para que saiamos do vazio das aparências felizes? Temos buscado sensações demais até não sentirmos mais nada. E o que resultará essa corrida frenética rumo ao léu?
Em que momento nos permitimos o silêncio, sem fones de ouvido, textos engraçados, vídeos virais, conversas superficiais e testes adolescentes que falam só coisas boas sobre nós mesmos?
Ao fazer o verdadeiro teste de personalidade, ouvindo o que há dentro de nós, permitindo nossas questões mais profundas, expondo o que há de bom e mau, doce e amargo, não vamos mais apenas querer tirar uma “selfie” com edições no photoshop para o mundo ver. Afinal, o teste real é o diário, cotidiano, ao vivo e em cores: quando lidamos pessoalmente com o outro e conosco mesmos, não só com o nosso lado mais bonito, forte e divertido. E esse autoconhecimento não é para apenas ser publicado em um mural de segundos. Ele deixa sua marca indelével por toda a vida.