Elefantes cinzas. Elefantes rosas.
Meu filho só tem cinco anos e já sabe o que a escola espera dele: que siga os padrões e se aperte, se ajeite para caber no formato que desejam, que obedeça às ordens para poder brincar no parquinho depois. E que não seja criativo para não ter problemas com a professora.
Todos os seus deveres de casa têm desenhos, os quais ele obrigatoriamente precisa pintar. Não adianta apenas escrever os nomes, colocar as quantidades, completar com as letrinhas que faltam, escrever os números. Não. Pintar é atividade obrigatória. Se esquecer, a professora devolve para casa com bilhete: incompleto. Não, ele não pode escolher se vai ou não pintar. Suspiro sem falar nada. Eu achava chato demais ter que pintar, quando eu era criança. Nunca gostei dessa atividade. Aliás, não entendo o estrondoso sucesso de livros para colorir para os adultos. Eu achava perda de tempo. Não me “desestressava”, pelo contrário. Contudo, preciso dar exemplo (de obediência) para meu filho. Preciso? Sim, o papel da escola parece ser o de formar pessoas obedientes e a família precisa contribuir com a sua parte – embora a gente diga bonito no discurso que o papel da escola seja formar o cidadão crítico-reflexivo...
Já que o menino tem que pintar, não tem jeito. Vamos ao trabalho. Então, ele tem à disposição vários materiais para colorir. Bastante tinta guache, giz de cera variado, cola colorida, canetinhas de vários tamanhos e, claro, muitos lápis de cor. Poderíamos fazer uma festa na hora da pintura com tanto material disponível. Poderíamos, mas não podemos. Ele não pode escolher com o que pintar. Um dia, sem se lembrar dessa regra, ele pintou com giz de cera. Ficou lindo. A coordenação motora e paciência dele são melhores que a minha. Sem um borrão, tudo pintado com capricho. Mas, no dia seguinte, a professora ralhou com ele. Só pode pintar com lápis de cor.
Dias desses, em uma atividade de contar e escrever os numerais, havia vários desenhos de bichos – para ele obrigatoriamente pintar. Para cada animal, vinha uma pergunta: “Mãe, posso pintar a tartaruga de verde?” ou “Posso pintar o leão de amarelo queimado, porque é o mais parece com a cor dele?” Eu só respondia: “Filho, o dever é seu. Pinte como sua imaginação mandar. Use sua criatividade!”
E ele, obediente, pintava tartarugas verdes, leões de amarelo-queimado.
Pouco depois, ele entrou em pânico. Não tem lápis de cor cinza para pintar o elefante! Ora, filho, pinte de qualquer cor. Por que não pinta o elefante de rosa? Ele riu. Achou engraçado. Disse que seria bom pintar o elefante de rosa. Mas, não podia, “porque a tia vai brigar. Tem que pintar da cor que as coisas são.” Foi a resposta.
Eu imaginei um varal com os desenhos dos alunos. Tudo igual. Tartarugas verdes, leões marrom-claro (embora meu filho afirme que o leão seja dourado) e elefantes cinzas, enquanto minha imaginação queria um festival de cores, texturas, pinceladas, dedinhos sujos, risos felizes, carinhas ansiosas para que suas obras de arte fossem apreciadas...
Lógico que meu filho sabe que os elefantes são cinzas na vida real (pelo menos os que ele viu até agora). O que ele precisa, no entanto, é que a escola não mate e coloque em extinção seus elefantes cor de rosa!