Textos
Sobre Nomes
Como pode algo que nos singulariza, identifica, faz parte da nossa subjetividade não ser escolhido ou construído por nós mesmos? Essa história de nome sempre dá história para contar.
Quando criança, eu aprendi que meu nome era apenas o inverso da irmã mais velha, Marisol. Acho que essa inversão no nome não deu assim tanto certo. Na minha opinião, não tem como Solimar dar um bom nome de jeito nenhum. Na infância, queria me chamar Jacqueline (isso mesmo, com o “c” antes do “q”). Ou Priscila. Ou Suellen. Ou Diana. Enfim, pelo visto, qualquer nome que não fosse o meu.
Mas, vá tentar entender esse mundo. Conheci uma Jacqueline que queria trocar de nome, pois achava que esse era um nome de drag Queen! Duvido que ela quisesse trocar com o meu, no entanto.
Sofri até aceitar esse nome. Na terceira série era zoeira dos colegas por causa do rio Solimões. No ensino médio, um professor, chamado Cleto (!) entra na sala e pede para o aluno Solimar se levantar. Vergonha total. Sem contar a confusão das pessoas: Sulimar? Solemar? Lucimar??
Como professores, passamos por várias situações por causa da lista de nomes nos diários. Eu me lembro de uma colega que lutava com o professor para falar o nome dela corretamente. Seu nome era Audrey. E os professores liam AU, como em português, claro. O problema que não é um nome em português. Então, o “Au” vira “Ó”. Sem contar o final que não é como um simples “e” e “i”. Mas, aí já era querer demais. Aliás, nomes estrangeiros sempre são complicados nesses diários. É um tal de David dizer que seu nome é Davi, Grace Kelly virar escrito Greice Keli. E Washington? Já tive um aluno chamado Uóston!
Aliás, eu me lembro de quando morava em Portugal ter conhecido um casal de brasileiros que queria colocar o nome da primeira filha deles de Stephanie. Não puderam. Lá eles precisavam aportuguesar o nome. Tiveram que colocar Estefana. Pois eu mudava o nome, mas não colocaria esse de jeito nenhum.
Nas minhas listagens já apareceram vários nomes exóticos, claro. John Lennon da Silva, Abielaine, Elcana, Eliabe Masterson, Midalma, Zózimo, Jarf, entre muitos outros. Bem, esse último, na verdade, não foi meu aluno. Eu o conheci em minha adolescência, quando ele deveria ter uns três ou quatro anos. Seu nome era homenagem de todos os membros de sua família: Jorge, Aurea, Renata e Fausto – se não me falha a memória. Imagino aqui o menino tendo que contar a história do nome algumas vezes, ao perguntarem o que significava o nome.
Uma colega da escola se chamava Gerlaine (espero que seja assim que escreva o nome, já não me lembro mais). Entretanto, todos da família só a chamavam de Patrícia. Sabem por quê? Ela havia sido registrada aos três anos de idade. Até então, sem registro, mas tendo que ser identificada, as pessoas a chamavam de Patrícia. Aí, vai lá o pai ou a mãe, embora eu tenha quase certeza de que foi o pai, e quando resolve aparecer no cartório, muda o nome. Pergunto: por que não registrou como Patrícia?! Enfim, caso de dupla personalidade? Na escola, no trabalho, nos concursos, ela é Gerlaine. Patrícia só para os amigos e familiares. E, provavelmente, para ela mesma ela é simplesmente Patrícia.
Na escola fica tão evidente essa coisa de não gostar do nome. Uma colega tinha uma aluna chamada Severina, mas que assinava as provas como Samara. Na hora de lançar as notas, cadê a Samara na listagem? “Ah, professora, vamos combinar que Severina é o ó, né?” Uma aluna chamava-se Raquel Muniz, mas na hora da chamada, quando a professora falava o nome, a menina gritava lá de trás: “Professora, pelamor!!! Não me chama assim. Por favor, me chama de Raquel Ester!” Aí a encrenca dela já era com o sobrenome...
Talvez seja por isso alguns alunos chegam e sussurram para o professor qual o sobrenome preferem que sejam chamados e quase imploram para o professor não esquecer. Sim, tem sobrenome que, vamos combinar, é vexatório também, pelo menos para o dono, tais como Brochado, Aranha, Pinto, Rego.
O meu sobrenome mesmo, nada exótico, já causava transtorno. Toda vez que tinha (e ainda tenho) que dizer o nome completo, Solimar Patriota Silva, tinha que ouvir as mesmas piadinhas sem criatividade: “Você é patriota mesmo! Até no nome” ou “Pátria amada, Brasil!!!!” Aff...
Há religiões em que a pessoa ganha um novo nome em algum ritual de iniciação ou de passagem. É torcer para ele ser melhor do que o original.
Seja como for, nomes são quase sagrados. Apesar de tudo, seja qual for o seu nome, ele ainda é um presente. Nem que seja presente de grego do amigo da onça! Ele carrega nossa identidade, nossa história de vida, nosso envolvimento familiar, nossa identidade pessoal, muita carga emocional. Ele é a sua marca registrada. Pelo menos nessa vida.
Imagem lá do blog do André Mansur, quem apresenta um texto interessante sobre o assunto. Par ler, clique
AQUI.
Ao escrever esse texto, procurei na internet por alguns nomes exóticos. São muitos. Fique espantado
AQUI.
Agora, se o seu interesse for pelos nomes bíblicos, tem uma boa lista
AQUI.
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 14/11/2014
Alterado em 08/05/2020
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