Supermercados: a batalha mensal
Eu deveria adorar supermercados. Afinal, é o lugar onde tem comida! Pensando bem, é melhor restaurante, pois além da comida já estar toda pronta, eu nem preciso lavar a louça.
Mas, a coisa pior do mercado mesmo é quando a gente vai no dia de pagamento. Aí, você já se aborrece porque nem tem vaga para estacionar. Fazer o quê? Vai lá, pois a despensa está vazia. Entretanto, você até promete que vai comer menos, só para a comida durar até depois do próximo pagamento e não voltar no mercado quando a despensa está vazia daquele jeito que está lá na sua casa.
Enfrenta os corredores lotados, carrinhos se esbarando, pede desculpas, pede passagem, perde a paciência e tem ainda mais uns quinze corredores para percorrer. Pior ainda quando tem alguma promoção. Parece até que estão dando comida de graça. Junta aquele pessoal todo, pegando seja lá o que for, quase se esbofeteando. Quem consegue pegar o item em promoção sai com um sorriso de vencedor.
A gente até desiste.
Depois de quase duas horas, finalmente, fila do caixa. Ai, não, eu vim sozinha ao mercado e me esqueci que, no final, tem a fila!
A fila é uma história à parte. Primeiro, você fica olhando o número de pessoas e faz uns cálculos rápidos, com base no volume de seus carrinhos ou cestas, para ver qual a fila vai andar mais rápido. Com base nisso, a gente até se acha esperto, porque pensa que ninguém faz esses cálculos também.
Sua fila até começa a andar mais rápido e você quase ri do cara que chegou junto com você e escolheu a fila do lado. De repente, acontece algum problema lá no caixa. O operador liga a luzinha vermelha e a fila para. Todas as filas começam a andar e você lá, parado, com raiva, se perguntando se não é hora de começar a fazer uma dieta.
Ah, mas você é esperto e consegue trocar de fila bem rápido, antes que aquelas três mulheres com carrinhos cheios alcancem a fila. Elas ocupam a fila onde você estava, pois não perceberam que você estava lá, empacado.
Mas, quem disse que mudar de fila adianta? A Lei de Murphy funciona. E a sua ex-fila começa a andar e você começa a ficar angustiado.
Primeiro, alguém teve que trocar o açúcar porque estava furado e a fila ficou lá parada, esperando o cara trazer o bendito açúcar. Só depois você pensa que poderia ter entregue o seu para andar mais rápido. Afinal, açúcar era a única coisa que já havia na sua despensa. Tarde demais.
Depois, a fila anda a passos de formiga. O que será agora? Daí, você tenta bisbilhotar o que está acontecendo. Essa não. Uma senhora está enrolada com a senha do cartão de crédito. Já tentou umas duas vezes. Da próxima, se bobear, ela vai bloquear o cartão. E se não tiver dinheiro, como que vai ser para a fila andar?
Finalmente parece que ela acerta e a fila começa a andar novamente. A essa altura, a primeira daquelas três mulheres já chegou ao caixa. Você só pensa em como é burro, que deveria ser você a estar ali. Mas, não adianta. Agora é melhor nem mudar de fila. Só falta mais uma pessoa na sua frente.
O melhor ainda está por vir: o caixa!
Ah, caixa de mercado é o ponto alto dessa aventura mensal. Não apenas porque você vê que calculou um valor com as compras e está gastando o triplo. É o espírito de competição.
Isso mesmo. Competição: Você tentando empacotar as coisas na velocidade com que o caixa registra os preços Mas, não é só empacotar. Você tem que tirar do carrinho a quantidade certa que caiba na esteira, abrir as sacolas e reforçar – afinal sacola de mercado não foi feita para aguentar peso – e ainda correr para colocar os produtos dentro da sacola antes que o caixa te olhe com aquela cara de quem te chama de lesma.
Você corre. Ele percebe e corre ainda mais. Você já está com um monte de coisas para por na sacola. E, pior, não tem mais sacola. E ele percebe, mas de propósito não te dá mais, só para você se sentir mais atrapalhado mesmo. Acho que ele está tentando dar uma revanche em nome de todos os seus ancestrais operadores de caixa, na época em que era necessário ficar apertando os botões para saírem impressos os valores dos produtos em uma bobina com tinta azul. Se você não se lembra, sorte sua, não é tão velho como eu. Mas, fico lá pensando: isso é uma forma de vingança.
Só que daí, você podei se vingar na hora de pagar. Ele vai ter que esperar você colocar tudo nas sacolas e só nesse momento é que você vai retirar o cartão. Parece que ele pensou a mesma coisa quando olhou para a fila enorme diante dele. Então, com um pouco de má vontade, pega umas sacolas e começa a te ajudar – mas sem reforçar a sacola e colocando os produtos todos misturados, acabando com sua organização de colocar na sacola os itens separadinhos: limpeza, laticínios, padaria, carnes e assim por diante.
Parece que a ordem do caixa já é para o preparo do seu almoço. A carne, o tempero, o suco, o queijo e o sabão para lavar a louça no final.
Por fim, você já está exausto, suando, quase se sentindo no filme Tempos Modernos, só que ao invés de apertar parafusos, você está ali, pegando produto, colocando na sacola, pegando a sacola colocando no carrinho. E repetindo isso inúmeras vezes.
Pronto. Acabou tudo. Praticamente no mesmo tempo em que você olha o resultado, isto é, o valor da conta, e se assusta.
- Aquilo ali é seu? – Ainda pergunta o caixa se referindo aos primeiros produtos que o cliente irritado, com toda a razão, já começou a colocar na esteira do caixa.
Você sente pena do coitado, que vai começar a competição agora.
- Não. Só isso. – Você responde.
E, finalmente, vocês dois sorriem um para o outro. Como bons adversários após a competição.
Depois de pagar, o caixa te entrega a imensa nota e diz: obrigado e volte sempre. (Na verdade, não dizem isso mais, não.)
Você está cansado demais para responder. Só sorri. Mas pensa em um jeito de nunca mais voltar ao mercado. Ou em qual será a sua estratégia para conseguir ser mais rápido da próxima vez. Ou, ainda, em como escrever uma crônica sobre o assunto...