Joãos, Juans, Johns
Filho de usuária de drogas, a sua droga de vida começou logo cedo. Nasceu com má formação congênita, graças à cocaína recebida no ventre. Obrigado a andar de joelhos a vida inteira, não sabia se teria mesmo que se dobrar.
Que vida era essa que, ao invés de receber amparo, precisaria servir de muleta para um pai que viu no filho apenas uma excelente fonte de renda. Objeto de contenda. Não fruto do amor. Para ele, o que era mesmo isso? Todos os dias como pedinte. De um ponto da cidade a outro, muito distante. No colo do pai, apenas infante e, mais crescido, arrimo de família. Expondo suas feridas, passando humilhação, sem ir para a escola, diariamente precisava voltar para a casa com valor estipulado de esmola. Do contrário, levava beliscão.
Aliás, em seu pescoço, ao invés da marca (oculta) de abraços e afagos, carinhos e beijos, há uma mancha bem visível do dia que arrecadou menos dinheiro. Sem dó, nem piedade. Tampouco sabiam os pais o que é amor. Apenas pura ambição – sim, é possível haver ambição mesmo em meio à lama...
Aos quinze, sentindo-se revoltado e humilhado, morando com sua avó, olha ao redor, desconfiado, petulante, carente e tão só. Mas, o seu olhar, ainda que com toda essa história, consegue sorrir, transmite um fio de luz.
E foi quando o encontrei. Eu, tentando ensinar-lhe inglês e ele com tanta história para contar. Quinze anos e com tanta desilusão, mas, seus olhos contaram para os meus, naquele rápido olhar, que ali mora alguém que é bom!
Ai, meu Deus, quantos existem nesse mundo? Por quantos deles passamos como se fossem invisíveis? Quantos Joãos, Juans e Johns estão aí espalhados, enquanto é tempo de resgatá-los?