Solimar Silva
Crônicas, poesias, artigos diversos, livros, cursos, palestras e oficinas!
Capa Meu Diário Textos Fotos Perfil Livros à Venda Prêmios Livro de Visitas Contato Links
Textos
Quando um professor faz a diferença
 
 
          Meu caso com a língua inglesa teve direito a cupido e tudo. Esse cupido se chamava Elma, minha primeira professora de inglês, na quinta série (sexto ano). Elma era bonita, sorridente, elegante. Elma trazia fitas cassete e um gravador imenso. Era divertido vê-la reproduzindo sons, colocando a língua entre os dentes para ensinar o th de bathroom.
Havia canções, repetições, dramatizações. Eu me sentia uma verdadeira nativa falando ou compreendendo frases como: “Hello, Mary. How are you?”
          Costumava memorizar os diálogos do livro (não me lembro do nome dele, mas foi o único livro didático que tive na minha vida que era em formato paisagem – ou seja, como se as folhas fossem deitadas e não em pé, no formato retrato). Escrevia os diálogos em um quadro para os missionários americanos que almoçavam na minha casa na hora em que eu estava na escola pudessem checar se estava tudo certo. Eles chegavam a pensar que eu havia apenas copiado. Mas, não. Eu memorizava com prazer aquele monte de letra diferente tudo junto, formando palavras novas para mim.
          Elma tinha um sorriso cativante, uma energia positiva. Falava da parte cultural, principalmente da Inglaterra. Foi com ela que aprendi a importância da Lady Di. Aprendi que ela era uma mulher elegante e admirada. Foi com ela que aprendi canções como For he’s a jolly good fellow que eu cantava sem parar.
          Foi essa base que me deu sustentação para quando me deparei com a outra escola, imensa e ótima, mas cujas professoras foram muito menos marcantes.
          Lembro de uma que passava a gramática no quadro. Era um tal de do e does que eu não entendia de onde haviam surgido. Eu lia uma frase como He washes the dishes (ele lava os pratos) e, daqui a pouco, no nada, via o does se intrometendo na conversa: Does he wash the dishes? Mas o que era aquilo? A professora fazia setas, riscava verbo, colocava letras coloridas. E eu, nada.
          Uma vez, uma colega perguntou à professora como era vassoura em inglês. Ela não sabia. Disse que era uma palavra tão... tão... substantiva! Mas, não se deu ao trabalho de procurar no dicionário ou nos dar um para nós mesmos procurarmos e aprendermos.
          E, de repente, a figura da professora Elma foi a única que ficou marcada em minha vida. Houve um apagamento tal que não me lembro do nome de nenhum professor que tive em todos os outros seis anos (do ensino fundamental e médio).
          Sorte minha que a primeira impressão quanto a essa disciplina foi deveras positiva. Serviu de combustível para eu aprender letras de música, para conhecer mais sobre a cultura, para fazer um curso – sonho que foi postergado até eu poder pagar por conta própria. E foi, talvez, um dos motivos que me fez optar pelo curso de Letras na hora de prestar um vestibular.
          Tudo isso graças à diferença de uma professora que levava vida para a sala de aula, talvez sem se perguntar se, quando ou onde nós, alunos pobres de São João de Meriti, iríamos usar aquela nova língua.
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 31/07/2014
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
Comentários