Solimar Silva
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Textos
Vi(ver) a vida
 
          Quantas vezes não ansiamos pelas férias, aquele momento de descanso merecido, em que não vamos fazer nada, nada? A questão é que parece que não conseguimos entregar-nos ao ócio, à diversão, ao lazer, pura e simplesmente.
          Sei que os professores têm mania de ter ideias para projetos e aulas enquanto se divertem. Entram no cinema para assistir a um filme e logo veem um trecho que pode ser útil em sua aula. Fica lá, tentando anotar no escuro a ideia para não esquecer. Vão a um museu e, lá vem a brilhante ideia de promover uma excursão com sua próxima turma assim que o ano se iniciar.
          Mas não estou falando disso. Esses são vícios mesmo do ofício. Estou me referindo à falta de hábito de termos tempo para vivermos o momento presente. De realmente curtirmos as férias, os passeios, a diversão. E isso talvez seja melhor traduzido por viver a vida a cada instante, sem nos preocuparmos em ter uma máquina fotográfica, filmadora ou celular para registrar o momento, para apenas vermos a vida, depois das férias.
          Estava em um grande parque de diversões e vi as pessoas muito mais preocupadas em registrar os pequenos momentos com suas câmeras ao invés de eternizá-los em suas memórias afetivas. Agora na onda dos equipamentos digitais, as pessoas sequer veem o que estão fotografando, apenas olham na tela rapidamente e click.
          Antes dessa era tecnológica, tínhamos máquinas fotográficas de filmes. Trinta e seis poses, se você tivesse grana para revelar as fotos depois. As fotos tinham que ser escolhidas criteriosamente. Tinha mesmo que se fazer pose. Poucos audaciosos tentavam poses naturais, visto que o resultado só ia ser visto depois que as fotos fossem reveladas.           Aliás, palavra bem escolhida. Revela-se cortes de pés e cabeças, poses fora do enquadramento, olhos fechados ou vermelhos... Mas, quem disse que hoje todos aproveitam a facilidade das fotos espontâneas? É pose o tempo inteiro, biquinhos risíveis, foto de prato de comida nas redes sociais e muita pose de alegria forçada.
          Falta-nos mesmo é reservar tempo para viver e isso não pode ser feito apenas vendo fotos dos momentos que passamos. É preciso ver, sentir, respirar, deixar-se envolver pelos instantes de diversão. É necessário registrar na alma o que nenhuma foto é capaz de captar: o movimento, as sensações, os cheiros, o sentimento.
          Para isso, muitas vezes temos que escolher desligar nossas câmeras fotográficas estejam onde estiverem – celulares, tablets, máquinas – e assistir ao espetáculo, curtir o parque de diversões, rir com os filhos, falar bobagem com os amigos, se lambuzar com o sorvete e guardar boas memórias. Não na máquina. Mas, na mente e no coração. É preciso desligar para ficar realmente conectado. Afinal, a vida mesmo acontece off line.
Solimar Silva
Enviado por Solimar Silva em 17/06/2014
Alterado em 08/05/2020
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